projeto amigos da gravura. chácara do céu, rio de janeiro. 2004

A oposição entre proximidade e distância, é a articulação mais constante da obra de Germana Monte-Mór. O olhar logo é chamado para as fendas e regiões estreitas que surgem entre as formas. Mesmo quando se expande para o restante de um desenho, o olhar nunca se separa inteiramente das brechas uma vez vistas. Ainda que próximas, as formas, entretanto, não se comunicam de todo. São solitárias, ensimesmadas. Estão mais lado a lado do que juntas. Há nisso um sentimento do mundo. Em face da amplidão e dos apelos do vago e do inefável, as formas se buscariam, se agregariam. Poderiam fundir-se, já não estivessem tão próximas quanto a cada uma é destinado estar.

Nos últimos 10 anos, Germana Monte-Mór explorou essa sua poética das distâncias por meio de materiais, cores, escalas e situações espaciais as mais diversas. Não fosse assim, não faria sentido o emprego do termo “obra” neste breve texto. Mas é bem uma dezena de diferentes séries de trabalhos  – e séries plenas, esgotadas – que a artista realizou nesse tempo. E com um apego e discrição raros ao que é simples e sutil. A linha apenas passo a passo maleável, nem geométrica, nem orgânica, é o aspecto mais evidente dessa sutilieza. Desenha uma espécie de topografia do que é ao mesmo tempo gregário e isolado. Como no poema de Quasimodo, cada um está só no coração da terra. Mas antes que chegue a noite, seríamos solidários com o diferente e semelhantes em solidões tão iguais. E como tudo é dito de modo sereno, sem alarde, sente-se a calma proximidade do que está à mão. Porém, distante. E, de novo, perto. Quietude inquieta, sem fim, não menor que a vida.