Esta é a primeira exposição de Germana Monte-Mór em que as cores desempenham um papel fundamental na constituição de telas e desenhos. Num trabalho com longa trajetória, Germana parecia relutar em dar um peso mais decisivo às cores. Isso talvez se devesse à forte experiência material que a artista tem da realidade. No entanto, essa nova atitude em face dos trabalhos não os conduziu a um distanciamento da realidade dura e resistente.

A inclusão das cores mais intensas sugere profundidades e elas provocam-se reciprocamente, pesam sem elegância, até que, por um momento fugaz, uma configuração predomina, mostra-se com mais firmeza e submerge, para tudo começar novamente. De algum modo essa descrição talvez servisse para retraçar em parte a própria trajetória de Germana Monte-Mór. A atração pela rudeza do mundo pode sugerir uma existência conduzida com dificuldade e privações, ainda que, como na obra de Van Gogh, leve a resultados extraordinários e exemplares.

Germana é uma artista incomum – e nesse sentido o espaço heterodoxo da Galeria Estação reforça sua singularidade. Ela não persegue ansiosamente a história da arte, como fazem muitos artistas que não têm uma experiência própria a expressar e põem-se a correr atrás do que seria (como se isso existisse) o próximo passo a ser dado por esse fantasma.

Os seus fantasmas, Germana os cria.